A TENDÊNCIA NÃO CORRETA AO FIM: O MAL
MORAL
Aristóteles
entende que a pessoa que não apreendeu os valores e a maturidade ética é
denominada como analfabeto moral. Ele define cinco perfis de pessoas viciosas.
1.
Alokastos: É a busca pelo prazer no desejo do agradável. Depois vem o
arrependimento por deixar-se arrastar pelo prazer. É o caso das crianças que
são levadas pelo desejo do agradável.
2.
Malakos: Aquele que busca fugir da dor a todo custo, evitando-a ao máximo.
Quando não resiste às tentações, o homem torna-se mole e voluptuoso.
3.
Theriotes: É aquela pessoa que foge dos padrões humanos, tornando-se
monstruoso. É o oposto ao ente divino.
4.
Acrasia: É a fraqueza da vontade. Mesmo conhecendo aquilo que é o bem, comete o
que mal. Isso vem em consequência de uma paixão arrebatadora e irresistível:
enquanto desejam uma coisa, realmente querem outras. São pessoas fracas de vontade.
Sabem o que é o bem, mas são tomadas por impulsos que as faz cometer coisas
erradas. É como a cidade que tem todas as suas leis para funcionar bem, mas não
usa elas.
5.
Kakos: o vicioso satisfeito e em paz consigo mesmo. É aquela pessoa que
adquiriu um hábito ruim de forma voluntária e que se tornou um hábito vicioso.
Aqui
temos uma melhor distinção entre o que é vicioso e virtuoso.
Virtude: A
pessoa virtuosa é aquela que vai tender sempre para o fim bom e, mediante a
deliberação, vai atingi-lo da melhor forma. É quando o raciocínio prático é
verdadeiro e o desejo é correto. É a marca das virtudes éticas que buscam o bem
como fim último.
Tendo
claro essa compreensão de virtude, sabe-se distinguir bem o vicioso (o
malvado). Essa distinção virá pela sabedoria prática da razão.
Vício: Aristóteles diz que
a pessoa viciosa delibera corretamente tendo em vista um fim errado. A sua capacidade
não pode ser considerada sabedoria, mas simples astúcia. O desejo dessa pessoa
é totalmente desequilibrado e irracional. A vontade não é submetida à
deliberação e fica somente na esfera dos desejos.
O
desejo pode ser bom ou ruim. Quem vai definir se o desejo é bom é a submissão
do desejo às convenções aceitas pela Pólis, pela família e pela instituição.
Mas as regras sozinhas não resolvem tudo. Aqui a razão prática vai dizer o que
é virtude e o que é vício.
A pessoa
agirá de acordo com o ambiente em que foi criado, sendo moldado pelo meio.
Aristóteles vê o malvado como aquele que não teve uma boa educação e não
aprendeu as normas. O kakos acha que
está fazendo o bem pelo fato de ter aprendido errado. O perverso fica numa
confusão mental que não lhe deixa distinguir o bem do mal.
O
desejo do homem malvado é uma tendência contra a natureza, fruto de uma
educação desgovernada e de uma perversão da mente. O malvado é uma pessoa sem
discernimento e, se o tivesse, funcionaria de forma errada.
Todos,
bons e maus, agem tendo em vista o que acham bom para elas. Mas somente o homem
bom aspira o que verdadeiramente bom. O vicioso não conhece o fim realmente
bom. Vive numa confusão moral.
Aristóteles
vê o malvado como um homem ordinário e comum, e não demoníaco ou monstruoso. O
que lhe falta é refletir o pensamento, o que o leva a atitudes que não consegue
distinguir. Sendo um homem comum, ele é responsável por querer tornar-se
moralmente doente ou por querer manter a saúde ética. O kakos não sabe o que é realmente bom, mas ele é responsável pela
perversão do seu estado mental.
A
ignorância do vicioso é o fruto da negligência e por essa negligência ele
merece ser censurado. Mas, de outra parte, nem tudo aquilo que é resultado da
ignorância é punido, nem tudo é perdoado. O kakos
age injustamente com a firme persuasão de que está agindo bem, sem provar
arrependimento. As pessoas que não tem arrependimento não têm cura.
O
perverso age em harmonia consigo mesmo. Nisso ele se assemelha com o virtuoso:
os dois agem voluntariamente, com prazer e em harmonia consigo mesmo. A
diferença está no resultado final de suas ações. Não é só querer desejar, mas é
preciso fazê-lo de forma humana, isto é, moral, que buscam fins bons
direcionados pela razão prática.
Fonte: Material didático elaborado pela Professora Barbara Botter para a disciplina Ética 2 UFES - 2016.
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