Quem somos

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

O problema do mal



O problema do mal


Em sua vida e suas obras, Agostinho teve um embate muito grande com a questão do bem e do mal. A Igreja de seu tempo discutia questões de ética permeados por esses conceitos que estavam influenciados por outras tradições religiosas de seu tempo.

Um desses grupos religiosos é o maniqueísmo, religião fundada por Mani que viveu entre os anos 216 a 277 d.C. O maniqueísmo foi difundido em grande proporção e, em partes, tinha similaridades com o cristianismo. Mani foi um sacerdote de origem síria que reuniu elementos de várias religiões orientais onde afirmava que o Bem e o Mal eram dois princípios que governavam o Universo. Estes dois princípios eram representados pela Luz e pelas Trevas que estavam em constante estado de combate como forças equivalentes.

Agostinho também teve uma vivência nessa religião. Mas depois de sua conversão ao cristianismo, ele passa a combater o maniqueísmo. Com influência platônica, ele defende que o mal é a ausência do Bem. Ele parte do princípio de que Deus é bom. E se Deus é bom e tudo aquilo que ele fez também é, como poderia ter criado o mal?

Agostinho passou muito tempo da sua vida refletindo três questões:

1. Por que o mal existe?

2. O que é o mal?

3. Como Deus se relaciona com tudo isso?

Diante dessas perguntas, ele chega à conclusão de que Deus é o bem supremo e acima Dele não há outro. O mal seria somente a carência, a imperfeição e a ausência do Bem.

Então, se Deus não criou o mal, quem é o seu criador? Agostinho entende que é o homem que nega a bondade e realiza o que é mal. Nele está a raiz do mal. Enquanto que Deus é, o mal não-é. O mal está na vontade do homem que o leva ao pecado. Se fomos criados para amar (o que é da vontade de Deus), quando não amamos estamos nos afastando da vontade de Deus. Logo, esta é uma vontade humana e não de Deus. É a vontade do homem que faz ele pecar dentro da sua liberdade. Vontade e liberdade caminham lado a lado no homem e essa vontade pode levar para o bem ou para o mal. O pecado acontece quando saímos de nossa natureza que foi feita para o Bem. Tudo o que não é bom e não é certo, é o não-é. Logo, isso não é criação de Deus. No fundo ele não existe porque não foi feito por Deus.

Agostinho entende que todo o mal vem do pecado original em Adão e Eva no relato bíblico do livro de Gênesis. Com a escolha do primeiro casal todo o sofrimento, doenças, corrupção e dores são parte da vida humana. Tudo isso não existia na criação de Deus. Quando optou decidir por ser Deus, o mal entrou no mundo.

Agostinho reflete a existência humana sob três aspectos:

1. O existir: a pedra existe, mas não vive e não entende.

2. O viver: o cachorro existe, vive, mas não entende.

3. O entender: o ser humano é aquele que existe, que vive e entende.

Deste modo, somente o ser humano tem a capacidade de entender e buscar a Deus e o que é certo. Se na criação fomos feitos por Deus para o bem, então teremos que lutar para encontrar o que é certo. Nós recebemos uma pré-informação do que é certo. Por isso, é preciso buscar mais conhecimento para entender o que é certo. É um compreender para crer em Deus.

Assim, a origem do mal está no livre arbítrio do homem. Mas diante disso, surge uma outra questão: será que o livre arbítrio não é o mal para o homem se é por meio dele que pecamos? Na concepção de Agostinho, vontade e liberdade são coisas boas que nos foram deixadas por Deus. É o homem que faz um uso errado delas. Exemplo: A mesma mão que acaricia, também pode machucar e até matar. Em última instância é o homem que decide. Decide ter ou não ter fé. Se sou obrigado a amar, este amor é puro? Quando a liberdade é tirada desaparece o livre arbítrio. Deus deu a liberdade e a vontade como algo bom porque Ele é infinitamente bom. Foi unicamente o homem que decidiu não fazer e praticar o bem diante de Deus, optando, então, pelo mal.



Fonte de Pesquisa.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.

Nenhum comentário:

Postar um comentário